Aí, quando a cpmf é vetada, ao invés de falar que vão cortar gastos, o eles dizem que vão cortar a maior parte dos investimentos na saúde. Por que a nossa saúde pública é realmente fabulosa, eu acho que vou cancelar o meu convênio privado e passar a usar o SUS, se eles estão no ponto de não fazer novos investimentos, quer dizer que o negócio não tem como melhorar. É uma vergonha. mas não tem problema, daqui a 6 meses, ressucitam o imposto do cheque e todo mundo já vai ter esquecido desse assunto.
Em resposta ao texto abaixo:
13/12/2007
A extinta
Soninha Francine
Escrevi uma dúzia de textos e duas de anotações sobre a CPMF. Como nenhum
deles foi concluído, acabei não publicando. O assunto não passou totalmente
em branco porque o Victor Barau, que trabalha no gabinete, escreveu uma
coluna sobre CPMF para o site (www.soninha.com.br). Não vou recuperar tudo
que escrevi, mas não quero deixar de falar sobre isso. Como agora tenho um
tempinho, recuperei um dos rascunhos, de dois meses atrás (foi logo depois
da manifestação contra a CPMF no Anhangabaú).
O título era: "Como é fácil falar mal de imposto"
"Pergunta aí: alguém quer pagar imposto?
Nããão.
Nenhum. Alto ou baixo, municipal ou federal, provisório ou permanente.
(Ou quer, "desde que os serviços públicos correspondam etc". Depois voltamos
a isso).
Então as pessoas não querem que haja Estado?
São anarquistas?
São super liberais, totalmente a favor da livre iniciativa, da competição,
das liberdades individuais?
Nããão.
As pessoas são a favor da competição, desde que não percam. Da sua liberdade
individual, mas não da dos outros.
A maioria, dizem as pesquisas, é contra a despenalização do aborto, a
descriminalização da maconha e de outras drogas, não? O Estado tem de
impedir as pessoas de se doparem!
Ah, e as pessoas esperam que o Estado responda, se encarregue, se
responsabilize pelos pobres. Pelos perdedores. Pelos "não-capazes".
Uma das sócias da Daslu chegou a dizer isso em entrevista à Folha - "Eu
tenho de me ocupar dos pobres? Eu não sou governo!".
Os pobres são problema do governo...
Então tem de ter governo.
Que tem de arrecadar.
Eu ODEIO pagar imposto mal empregado. Receber um serviço horroroso, ver o
desperdício com a máquina, a burocracia, mordomia e corrupção.
Mas sei que imposto é necessário e que tem imposto justo.
Quando surgiu a CPMF, morri de raiva. Um imposto do qual a gente não tem
como escapar. Porque não dá para não tirar dinheiro do banco. Não dá para
não fazer cheque.
E é para melhorar a saúde?? A gente já não paga muito?
Ah, vai sanear as contas públicas para sobrar mais dinheiro para a saúde?
Já vi: vai para o buraco sem fundo.
Pois bem: mudei de idéia.
Hoje em dia, entre todas as taxas, impostos, contribuições, acho que um dos
melhores, se não o melhor, é a CPMF.
Por vários motivos:
1.A alíquota é baixinha.:o) Para cada 100 reais sacados da sua conta
corrente, você paga R$0,38. Mil reais, R$3,80.
2.Ele realmente não tem escapatória. Ou seja: se vale para mim, vale para
todo mundo. Movimentou a conta no banco? Fica retido lá. Não dá pra
disfarçar, ocultar, sonegar.
Na verdade, pode escapar dele quem usa pouco os serviços bancários.
Convenhamos, algo muito mais comum entre pobres do que entre ricos.
3.A gente sabe quanto está pagando. Você sabe quanto de ICMS, ISS, IPI você
pagou na compra de um sabão em pó? Não. Mas sabe quanto ficou no banco para
a CPMF.
4.Além de não poder ser sonegado, a menos que você faça tudo com dinheiro
vivo, a CPMF é super dedo-duro de outras sonegações e movimentações ilegais.
Porque pelo valor pago em CPMF por um cidadão, calcula-se o volume de
dinheiro movimentado em suas contas. E se ele movimentou muito dinheiro mas
declarou pouco no Imposto de Renda, por exemplo, alguma coisa está errada.
Portanto, eu sou a favor de MANTER a CPMF - e de cortar OUTROS impostos.
Como o próprio IR, que é cruel demais com o assalariado.
Reforma tributária não é só "cortar imposto". É racionalizar, simplificar,
tornar mais transparente, prática e lógica a arrecadação - e mais justa.
Isso significa cortar de uns E aumentar de outros. Tem gente (e tem
atividade) que tem de pagar menos imposto; tem gente que tem de pagar mais.
Quem ganha dinheiro em cima de dinheiro em cima de dinheiro, por exemplo -
diferentemente de quem exerce uma atividade produtiva, que gera postos de
trabalho, que contribui para o bem-estar da sociedade, etc.
Mas a coisa mais fácil é subir lá na tribuna e procurar os microfones de
rádio e TV para gritar contra a CPMF. Como se dinheiro de imposto fosse para
o presidente e os governadores; como se dinheiro para "o governo" não
significasse dinheiro para o Estado investir. Como se o sustento do próprio
Parlamento não se desse com dinheiro de impostos (e ai de quem falar em
cortar gastos no Senado, por exemplo... Os senadores não querem nem tornar
públicas as despesas do Gabinete!). Como se simplesmente eliminar um imposto
fosse muito bom para a população.
Demagogia é um dos venenos mais insidiosos na política. É dizer o que o povo
quer ouvir, mesmo que seja mentira, balela, groselha, irresponsabilidade.
Tem demagogia na mídia, no governo e na oposição. Que, em uma situação como
essa, se esbalda. Falar mal de imposto dá retorno garantido!
Para aprovar a sua prorrogação, o governo pode "convencer" a base
governista -- que pode impor suas condições "republicanas", como "mais um
ministério, a presidência de uma estatal, vinte cargos de segundo escalão e
o troco do busão". Ou negociar, em alto nível, com a oposição. O PSDB, por
exemplo, deveria ter a decência de discutir o projeto e exigir correções ou
melhorias. "Sim, entendemos a importância de se prorrogar a CPMF, mas
exigimos a previsão de uma queda gradual na alíquota, a isenção para faixas
de renda mais baixas ou a diminuição de outros impostos". Até que foi para
esse lado, mas quando os tucanos começaram a negociar, foram achincalhados
na imprensa, como se fossem entreguistas, traidores, interesseiros. Quer
dizer: a se julgar pelas opiniões publicadas, debate na política não pode
ser verdadeiro, tem de ser Fla X Flu mesmo, oposição tem de dar cacete e o
governo que se vire para conquistar apoios. Nem percebem que o custo desse
apoio é muito pior para a sociedade, e que se pode acabar aprovando o texto
do governo sem nenhuma melhora".
Pois é, agora sabemos que a CPMF não passou. E tem email dizendo: "Veja como
votou o seu senador! Lembre disso na próxima eleição!" - sugerindo, claro,
que senador bom é o que votou contra a prorrogação.
Se é horrível ver dinheiro mal gasto? Claro que é. Enfurecedor. Mas tem de
ter dinheiro para fazer o serviço (público) direito, e a gente tem de se
esforçar seriamente para que assim seja (e não cuidar só do seu lado e que
se dane o resto). E por mais que não pareça, tem muito dinheiro sendo gasto
pelo setor público para manter funcionando centenas de coisas que fazem
parte da nossa vida tão entranhadamente que a gente nem percebe.